#27 É dezembro... (e tem dica de leitura no final)
Uma miscelânia de fragmentos dos meus pensamentos no último mês do ano
Atualmente, não gosto de dezembro. Era um mês bom quando eu era estudante e sabia que, quando ele chegasse, também chegariam as férias e eu estaria livre de acordar cedo, ir à escola e conviver com alguns colegas e professores.
Agora dezembro é uma agonia, ainda mais para mim que estou sem férias desde antes da pandemia. Já não me lembro de nada, não tenho energia para nada, não quero saber de nada, mas vou trabalhar até o último minuto possível, tendo que encaixar uma ida a São Paulo no meio.
E meu problema com dezembro tem muito a ver com o Natal. De uns anos para cá, peguei um ranço do espírito natalino. Os pisca-pisca, a decoração brega, as pessoas desesperadas para comprar presentes - frequentemente inúteis - e roupas novas para sentar na sala com quem elas veem o tempo todo. A ansiedade para rever todo mundo e fazer confraternizações antes que o ano acabe, como se no ano seguinte a gente não fosse se reencontrar de novo.
Estou enjoada das comidas de Natal que a gente come todo ano e de toda essa celebração do amor entre os familiares que, muitas vezes, não passa de hipocrisia. Queria me esconder numa toca e só sair quando as festas passassem.
E olha que não tenho problemas graves com minha família, daqueles cabeludos mesmo. Mas sei lá a coisa toda do Natal me deixou meio de saco cheio e ando achando dezembro um mês idiota. E neste ano, nem o verão chegou do jeito certo. No Rio está chovendo e faz frio. Dezembro. Dezembro. Dezembro. Não gosto de você!
E quão irônico é o fato de eu ter me tornado o próprio Grinch, sendo que amo filmes de Natal!
#15 Descansa militante I: 6 filmes água com açúcar para esquecer do Brasil 2022
#21 Descança militante II: 6 filmes para quem ficou arrasado com os resultados das eleições
Um pequeno fracasso
Sei que escrevo bem. Não tenho dúvidas disso. Porém, quando o assunto é mais complexo, me sinto insegura quanto à minha capacidade de expor as ideias e organizá-las em texto.
Quando preciso escrever algo mais complexo para o trabalho sinto certa pressão, mas ter um prazo e de estar falando por uma empresa facilitam bastante o processo e faz com o que o texto saia, seja publicado e esquecido nos cantos da internet.
Estou dizendo isso porque estou com uma newsletter empacada que não consigo terminar justamente por ser um tema mais delicado. Queria escrever sobre os traumas causados pela pobreza, mas não a pobreza extrema, aquela que obviamente causa danos a qualquer pessoa que a vivencie. Mas, sim, sobre os traumas que são causadas por formas mais brandas de pobreza e que guiam nossas escolhas e limitam nossas experiências.
Cheguei a escrever, mas li e não gostei. Já sei mais ou menos o que preciso mudar, onde está sobrando palavras, mas simplesmente não consigo parar para fazê-lo.
Será que falta tempo e energia ou coragem? Tenho percebido que tenho uma espécie de covardia disfarçada de exaustão, que me faz escorregar pelas frestas da rotina e abandonar desejos importantes.
Quero que esse texto saia ainda este mês. Vamos ver se consigo, afinal é dezembro, né? Bleeeeh. Se eu conseguir, você vai estar aqui para ler? Leia, por favor! #JujuCarente
I’m so sorry, Corey!
Quando o show do Slipknot no Rio de Janeiro foi anunciado, corri para comprar meu ingresso. Parcelei em 6x, passei dias eufórica ouvindo a banda e sequer sofria ao ver a cobrança na minha fatura. Eu e Corey, o vocalista do Slipknot, estariamos novamente respirando o mesmo ar alguns dias depois do aniversário dele, 8 de dezembro.
Porém, conforme os meses foram passando, me dei conta de que não daria conta: há anos, sofro com ansiedade para sair de noite, ainda mais quando estou sozinha. E, sim, eu ia nesse show sozinha já que não encontrei ninguém que pudesse ir comigo.
Bom, o dia do show chegou e não fui. Mas, calma, não joguei o ingresso (caríssimo) fora. Dei para uma amiga minha que não tem as mesmas neuras de locomoção noturna como eu e que queria muito ir. Fiquei feliz com o destino do ingresso, de verdade. Mas por outro lado…
Fiquei triste por mim, por não conseguir fazer algo que outras pessoas fazem sem esforço, por perder momentos importantes e por me sentir dependente da companhia de outras pessoas para ter o mínimo de coragem. Chorei horrores, tive uma grande crise comigo mesma e fui dormir atropelada emocionalmente.
No dia seguinte, acordei menstruada e percebi que a intensidade das minhas reações foi influenciada pela TPM. Ainda estava frustrada, mas, ao ver as imagens do show, apesar de sentir uma dorzinha por não ter ido, achei que aquilo ali realmente era um pouco demais para o nível do meu cansaço de fim de ano - ou seria a covardia que mencionei na seção anterior dessa edição da newsletter? Larissaaaaaaa, corre aqui!
I’m sorry, Corey! Fica para a próxima - se eu estiver menos doida!
Me afastar do drama
Em minha última sessão de terapia, Larissa me disse algo sobre me afastar do drama. Não vou dar detalhes para não me expor - muito - e não expor os envolvidos, mas fiquei refletindo se de fato crio drama onde não tem.
Na convivência, não sou uma pessoa dramática. Não cobro muito de ninguém e, antes de criar conflito, reflito se tenho razão e, se sim, encontro uma maneira de expor meu descontentamento sem ofender a pessoa ou deixo quieto.
No entanto, quando paro para pensar na forma como lido com desafios, ela é um tanto quanto dramática, sim. Um exemplo disso é justamente o show do Slipknot. Crio toda uma situação fictícia, com tragédias gregas, aí fico com medo, não consigo fazer a coisa e aí, quando desisto de brigar com minha cabeça, choro feito uma maluca.
Quando passo por uma crise com alguém que amo, aquilo vira um grande escarcéu emocional. Já penso que um desconforto ou conflito vai resultar em rompimento e fico querendo fazer coisas para resolver e aí choro e me angustio por dias e dias.
Será que precisa mesmo de tudo isso? Será que não há uma maneira mais calma e confiante em lidar com os acontecimentos? Sou eu uma grande dramaticona?
Livros que me marcaram nos últimos meses
Adoro falar de livros e dar dicas de leitura. Então, como as férias vêm aí e você talvez tenha tempo de ler mais, segue abaixo alguns livros que li e curti nos últimos meses.
Qué hacer con estos pedazos (Piedad Bonnett)
Não falo espanhol, mas entendo ok e decidi ler o lançamento dessa autora colombiana, que descobri por meio de uma postagem da BBC compartilhada por muitas mulheres que sigo.
Essa foi, sem dúvida, uma das leituras mais tocantes do ano. Emilia, escritora que mora em Bogotá, narra acontecimentos cotidianos da sua família. Sua relação com o marido, aparentemente feliz e pacífica, é repleta de pequenos atos de violência. Sua relação com os familiares é complexa, distante e há muito não dito em suas interações.
Ao ler, refleti sobre minha família, sobre os relacionamentos que testemunhei enquanto crescia e como as pequenas violências são aceitas como parte dos casamentos e como elas machucam as mulheres. Com apenas 142 páginas, vale muito a pena, mesmo que você não fale um “a” de espanhol como eu!
Friends, Lovers and the Big Terrible Thing (Matthew Perry)
O ator Matthew Perry, o Chandler de Friends, escreveu uma autobiografia sobre a série Friends e seus amigos, suas relações amorosas e seus problemas com o vício em álcool e opiódes.
Ele escreve muito, muito bem! Apesar de falar sobre temas densos, seu senso de humor torna o livro mais leve e arranca sorrisos. Gostei da forma honesta que ele abordou temas polêmicos e como expõe sua vulnerabilidade.
Uma coisa que me pegou muito ao longo da leitura foi essa característica humana da gente se estragar sem precisar de ajuda para isso. Matthew teve relacionamentos incríveis, excelentes oportunidades de trabalho, muito dinheiro e sucesso e se cagou todo sozinho sem precisar de ninguém para empurrá-lo para o buraco. Me identifiquei horrores e fiquei dias pensando nisso!
É um livro bom para todo tipo de público: humanos que se autossabotam, fãs de Friends, pessoas que têm dependência química e quem convive com alguém que tenha a doença, amantes de boas histórias reais. Assim como a gente, Matthew é cheio de mommy e daddy issues e é muito bom saber que não estou sozinha nessa!
Abusado - O dono no morro Dona Marta (Caco Barcelos)
Demorei meses para terminar esse, mas finalmente consegui. Recomendo muito!
Esse livro é meio que um romance documental sobre a história do Juliano VP (codinome do Marcinho VP), um importante traficante carioca, integrante do Comando Vermelho nos anos 90.
Como moradora do Rio, o livro me fez entender um pouco melhor a cidade onde vivo. Enquanto me aprofundava na história de Juliano, da infância até sua prisão, tive muitos sentimentos conflitantes. Me peguei torcendo pelo bandido, mesmo sabendo que eu poderia ser alvo de seus crimes se cruzasse com ele ou seus subordinados na rua. Gosto muito de leituras que me fazem ir além das aparências e estereótipos e me revelam pessoas complexas e suas vivências.
É o tipo de história necessária para a gente se aprofundar em problemas que fazem parte da realidade das grandes capitais, como desigualdade social, violência, políticas públicas e encarceramento.
The Island of forgetting (Jasmine Sealy)
Essa foi, sem dúvida, uma das melhores leituras de 2022. Esse livro foi uma recomendação de uma bookstragrammer jamaicana, chamada Cindy, que tem um clube de leitura e foca em recomendar autores e autoras caribenhas. Gosto muito de explorar literatura de diferentes países e gêneros, pois é uma forma de expandir meus horizontes e conhecer lugares que fisicamente ainda não pude visitar.
Esse livro se passa em Barbados e conta a história de quatro gerações de uma família. Primeiro, acompanhamos o avô Iapetus, depois seu filho Atlas, então sua neta Calypso e, por último, o bisneto Nautilus.
O livro aborda as complicações das relações familiares quando há dinheiro e poder envolvidos, os choques geracionais, as consequências do abuso parental, saúde mental, o impacto do turismo no Caribe e relações amorosas. Não vou dar muitos detalhes da história porque senão estraga as surpresas. Só digo que gostei muito dos personagens!
Infelizmente, ainda não foi traduzido para o português, mas se você tem um nível intermediário, quase avançado, acho que dá para ler e ainda dar uma melhorada no inglês.
The Sisters Brothers (Patrick DeWitt)
Me entregou tudo quando não esperava nada! Esse livro, inclusive, se tornou um filme com Joaquim Phoenix em 2018 e só descobri agora. Realmente, foi uma das leituras favoritas do ano.
É um faroeste sobre os irmãos Sisters, Eli e Charlie, que são assassinos de aluguel e foram contratados para matar um cara chamado Hermann Kermit, que suspostamente roubou algo do Comodoro, patrão dos dois.
Durante a trama, acompanhamos os dois irmãos que são opostos e têm o relacionamento um pouco desgastado a caminho de São Francisco, onde Kermit está. É uma história cheia de aventuras, violência, conflitos familiares e reflexões de Eli sobre como ele chegou onde chegou e para onde quer ir depois desse trabalho.
Já disse que gostei muito? Sim, gostei muito e achei um ótimo presente para dar para um macho hahahahaha.
RIP Shantaram
Estou de luto porque a quenga da Apple TV cancelou Shantaram, a série baseada no livro de mesmo nome que ganhou uma edição toda dessa newsletter e se tornou um dos meus livros favoritos da vida inteira. Tô indignadaaaaaaaaaa (leia com a entonação de Gil do Vigor.
O Charlie Hunnam deu um show, mas um show de atuação, que me fez amar o Lin da tela tanto quanto amo Jax Teller, seu personagem em Sons of Anarchy. O elenco todo arrasou, a série é esteticamente linda e a história é envolvente e cheia de reflexões interessantes sobre amor, política e liberdade. O que mais me impressionou foi que, apesar de não ser fiel ao livro, eles conseguiram capturar seu espírito e o dos personagens perfeitamente.
Estou arrasada. Não ficava triste assim desde o cancelamento de Anne with an E.
Apesar de não ter uma segunda temporada, ainda vale assistir Shantaram! Amei cada minuto!
ALGUÉM ADOTA SHANTARAM E DÁ OUTRA CHANCE PARA O MEU CHARLINHO, PFVR!
Bom, isso é tudo o que tenho para dizer em dezembro e sobre dezembro!
Talvez, eu apareça aqui com o texto sobre pobreza, talvez com alguma outra coisa. Quem sabe? Eu mesma não sei.
Se eu não voltar aqui, boas festas a todos que leem! Fico muuuuuito feliz a cada inscrição, like, comentário! Amo ser lida <3