#6 O Bafo da Prainha é um delírio coletivo e posso provar
Odeio quando caio nas armadilhas da esquerda média carioca e acabo rasgando meu dinheiro
Para ler ouvindo: um samba porque lá toca samba, mas não sou conhecedora de samba o suficiente para te indicar um 😬
Disclaimer: se você ama frequentar o Bafo da Prainha, não se ofenda, ok? Cada um com seu gosto e eu com meu bom gosto kkkkkkkkk.
Sou libriana e uso isso para justificar grande parte dos meus gostos e inclinações. Uma das coisas que coloco na conta do signo é o fato de amar saber o que está na moda entre os alternativos. Quero frequentar os lugares que todo mundo que não é qualquer pessoa frequenta, sabe? E isso vem desde a adolescência.
Antes da pandemia, eu era frequentadora assídua do Curto Café no Terminal Menezes Cortes no Rio e - confesso - sentia certo prazer em contar para todo mundo sobre como eu ia lá em 2013, antes de ser modinha e se tratar de um cantinho improvisado com um máquina de café.
Também adorava aquele restaurante chinês, chinês de verdade, que ficava na rua Buenos Aires quase no Campo de Santana. Estava sempre por ali sozinha ou com amigas do trabalho e, certamente, me identificava com um grupo bem distinto entre os frequentadores: os hipsters kkkkkk. Pois é, não gosto de admitir, mas é verdade. Basicamente, o público éramos nós, os hipsters, e os chineses de verdade, conversando na sua língua materna durante as refeições.
Então, em algum momento nesse interim, surgiu a Casa Porto, um bar de esquerda, frequentado por praticamente todo mundo que eu considerava descolado - é muito cringe falar descolado? É cringe falar cringe? Não sei. Já passei dos trinta, estou em declínio.
No entanto, por mais que eu quisesse ir, havia vários obstáculos que me impediam: meio fora de mão, não se encaixava nas minha agenda, etc. etc. Eis que um dia finalmente me organizei e fui almoçar lá.
No geral, curti. Sentei na varanda sozinha, pedi minha cerveja, meu prato e fiquei curtindo uma leiturinha no meu Kindle, me sentindo a Carrie Bradshaw tupiniquim que eu sonhava em ser desde os 16 anos.
Fui lá em outras ocasiões, indiquei para amigos que visitavam a cidade e coloquei o bar num sobrado do Largo de São Francisco da Prainha na lista de lugares que gosto de frequentar.
Eis que durante a pandemia, surgiu o Bafo da Prainha
Trancada em casa sozinha há meses, desesperada por rua e calor humano - e iludida, achando que me sentiria assim até o momento de poder tirar as máscaras -, eu clamava pelo Bafo da Prainha, especialmente quando comecei a ver as pessoas descoladas de sempre frequentarem e o bar sair em tudo quanto é lista de lugares para conhecer no Rio de Janeiro.
Aí Krishina, famosa no Twitter - que divide opiniões nas redes, mas de gosto - postou algo como “me chame para qualquer coisa, menos Bafo da Prainha”. Ao que respondi de dentro da minha cabeça “ih nada a ver, garota, achei que tu fosse mais descolada”.
Krishna, se um dia ler essa newsletter, deixo aqui meu pedido de desculpas.
Muita arrogância minha achar que alguém que nasceu e cresceu aqui, frequentadora de rodas de samba raiz, estaria equivocada sobre essa questão específica - tá, ela, com certeza, se equivoca. Disse isso mais para florear o texto.
Queria porque queria ir lá e nunca dava certo. Nunca dava certo quer dizer que eu não tinha o menor ânimo para agitar rolê, sair de casa e interagir - e ainda não tenho, mas estamos na luta para chegar num nível de socialização satisfatório.
Até que chegou o meu momento
Minha amiga Monique e eu estávamos há muito, mas muito tempo sem nos vermos e sem conversarmos de verdade. A saudade estava apertando demais e aí combinamos de almoçarmos lá no Largo da Prainha, local frequentado por Monique, já que ela é muito descolada.
Porém, não tava achando ela tão descolada assim por ter sugerido o Angu do Gomes, bar mega tradicional, com uma história bem legal, que a própria Monique me contou - me mandou o vídeo, o que significa contar em tempos pós-pandemicos - e não o Bafo da Prainha.
Como fui infectada pelo cariovírus e Monique é virginiana, cheguei atrasada e ela chegou cedo. Não lembro mais porque, mas ela decidiu sentar no Bafo da Prainha e me esperar já tomando um chopp.
Assim que pisei os pés lá, ela me deu a chance de irmos embora. Perguntou se eu queria ver um outro lugar, mas eu disse “não”. Era o meu momento de ser descolada e antenada, por mais atrasada que eu estivesse nessa tendência.
E foi aí que tudo desandou
O dia estava lindo. O sol brilhando no céu azul, mas sem torrar a gente viva, o perfeito dia de outono. Cheguei pronta para acompanhar Monique no chopp, mas havia um plano muito diferente em curso.
A gente pediu chopp para uns três garçons diferentes e eles, pouco solicitos, falavam de qualquer jeito, com um sinal que já iam vir, mas nunca vinham. Em vez disso, serviam outras mesas e fiquei me perguntando se era porque elas estavam com mais pessoas e, portanto, dariam mais lucro. Mas isso pode ser só paranoia minha.
Finalmente, conseguimos ser atendidas. Como o papo estava ótimo, não deixei que o cansaço para conseguir um mísero chopp me abatasse e continuamos ali apesar da Monique dar aquele toque “quer ver outro lugar?” e - advinhem - minha resposta foi “não”.
A cada chopp, uma luta até que a fome bateu. Nada melhor do que começar com um pãozinho de alho, recomendação da garçonete que, embora atarefada, era muito gentil e ajudou a gente o máximo que pôde - mas não tinha como fazer tudo sózinha, né?
Pedimos o pão de alho e qual foi nossa surpresa, para não dizer decepção, ao receber um pão de hamburguer com uma meleca verde dentro. Pão de hamburguer, cara? Até que estava gostosinho, mas, assim, não valia o preço. Pão de alho é pão francês, né? Mas vocês pensam que isso me abateu? Nada disso! Sou determinada. Quando decido insistir numa coisa que tem tudo para não dar certo, eu vou até o fim!
Papo vai, papo vem, atendimento horrível, implorando pelo chopp, implorando pelo cardápio, cardápio no QR que não funcionava, a moça ficou de trazer o cardápio físico e nunca trouxe, QR code novo demorou uma eternidade para aparecer, o estômago roncou, a raiva cresceu, mas eu TINHA que comer ali, eu TINHA porque tinha algo de bom ali que todos os descolados gostavam, então eu também tinha que gostar porque sou descolada.
Finalmente, conseguimos o cardápio.
Nada me chamou muito a atenção e fiquei meio chateada porque não tinha muitas opções e o que tinha me parecia meio caro. Mas tudo bem, pensei, tem lugar que é assim mesmo, que é especialista numa coisa e faz aquela coisa bem e tem o clima também do lugar, o clima é ótimo. Até parecia que eu estava falando de um homem: “ah ele é tosco assim porque tem trauma, coisa com o pai, mas se colocar numa coleira e der um tiro nele com uma pistola de tranquilizante, é uma ótima pessoa” kkkkkkkkkrying - vai dizer que tu nunca foi dessas?
Fizemos o pedido pelo site mesmo, o que devido à qualidade do atendimento, foi mais prático, mas não curto muito essa parada de ficar pedindo coisa online, sem ter contato com alguém. Acho esquisito e impessoal e você nem pode tirar dúvidas sobre seu pedido.
Enfim, mais uma longa espera, porém tinha fé que, daquela vez, entenderia do que todo mundo gostava o suficiente para estar ali todo fim de semana fazendo stories a dar com pau. A comida devia ser saborosa e o prato bem servido, como costuma ser nos botecos mais tradicionais, como o Angu do Gomes que tava bem ali na esquina e eu não quir ir.
Pedimos um galeto e ele chegou frio. Mas ok, tudo bem. Para mim, isso nem foi o pior porque eu estava morta de fome já e ele estava realmente bem saboroso, mesmo não estando na temperatura ideal. A questão para mim foram os acompanhamentos.
Veio um bandejinha, com os dois pedaços de frango frios com um pingo de comida em volta. Era só para a gente cheirar mesmo. Um pouquinho de vinagrete, três batatinhas de casamento, um tiquinho de cebola na brasa, um pão só e um potinho de maionese temperada que estava uma delícia e não deu nem para o cheiro.
Esse prato não foi caro para a atual conjutura do país, foi R$ 51 se não me engano, mas porra, aquele tantinho de comida? Poxa, não dava para ser o suficiente para a gente se sentir satisfeita? Eu terminei ainda com fome e totalmente arrependida antes mesmo de pagar a conta.
Odiei o Bafo da Prainha e não volto nunca mais e vou falar mal enquanto eu viver
Talvez, não. É capaz de eu voltar lá num outro dia, ter uma experiência melhor e até elogiar, mesmo que com ressalvas, como “me dá mais comida, pelo amor de deus”. Afinal, sou libriana e uma das minhas qualidade, sem modéstia alguma, é ser justa.
E sendo bem justa, acho que essa decepção toda tem muito a ver com a expectativa que eu criei depois de meses a fio, vendo as pessoas comentarem do local. Tenho esse problema até com série e filme. Minha amiga Luísa sofre comigo. Ela me recomenda as coisas, toda apaixonada e eu frequentemente não curto porque me baseio nos sentimentos dela para criar expectativas. É horrível ser assim.
Entretanto, realmente não recomendo o Bafo da Prainha, mas continuo recomendando a Casa Porto. E recomendo a região ali porque tinha muitos outros bares com porções bem maiores de comida e que pareciam ser bem gostosas. Eu e Monique, ainda com fome, ficamos inspecionando a quantidade de comida nos pratos das pessoas enquanto procurávamos pela…
Confeitaria Bodega Paquetá
Um cafézinho, muito do bonitinho, no Beco São José, 9, que fica meio que atrás do Largo de São Francisco da Prainha.
Como boa hipsterzinha, emo, paulista, adoro cafés e, além disso, sou fissurada em doce.
A moça do café passou na praça, deixando folhetos e foi tão simpática que fiquei realmente interessada. Então, Monique e eu fomos curar nossa raiva com um café e um pedaço de bolo de sobremesa. Gastamos R$ 20 cada uma, o que no Rio de Janeiro, Brasil 2022, é um preço espetacular, uma pechincha.
E tava tudo bem gostoso e o atendimento foi ótimo. Todas as atendentes eram super gentis e solicitas. Foi uma experiência bem agradável.
Fiz um textão enorme reclamando, mas devo admitir que…
… o sábado foi uma delícia, até porque perrengue, por menor que seja, sempre rende história.
Foi ótimo sair um pouco, aproveitar o sol, estar com uma pessoa que eu amo infinitamente, dar risada, não me preocupar com nada por algumas horas e conhecer um lugar novo, que sempre tive vontade de conhecer, mas onde me sentia meio insegura.
E o ponto alto do almoço foi que Thiago Lacerda, meu muso, apareceu lá com um look todo branco, de coque samurai - tem que ser gostoso demais para ficar gato com aquilo. Já é a quarta vez que vejo o homem pessoalmente e posso dizer que ele fica cada dia mais bonito.
Aí, amiga 🥺! Fico emocionada assim 🤩 Foi mto bom mesmo. Esse texto tá incrível :) Como vc bem disse, perrengue tem o lado bom pq gera entretenimento hahahaha! O melhor do dia foi estar ao seu lado. Te amo muito muito muito