#56 Vim sozinha
Sobre a música de Jessica Assis, uma amiga querida e compositora talentosa
Em 2012, fui aprovada para o curso de Letras no vestibular da UERJ. Apesar de ter me dedicado muito para isso, ao ver o resultado, não conseguia acreditar. Nunca tinha achado que fosse inteligente o suficiente para estudar numa universidade pública. Mas eu era e passei em primeiro lugar. Embora não tenha me formado, tenho muito orgulho dessa conquista e carrego boas lembranças de pessoas especiais que cruzaram o meu caminho na universidade.
Uma dessas pessoas é a Jessica Assis, uma cantora e compositora talentosíssima com quem estudei nos primeiros períodos da minha aventura acadêmica em terras cariocas.
Porém, quando nos conhecemos, não fazia ideia do seu dom para a música. Jessica era uma jovem simpática num processo de transição capilar sobre o qual conversamos algumas vezes. Por algum motivo, nunca nos tornamos melhores amigas. No entanto, mesmo depois que ela mudou de turma, tínhamos o hábito de falar sobre cachos, literatura, escrita e a vida pelos corredores entre uma aula e outra. Encontrá-la era sempre um sopro de alegria nos meus dias atribulados. Todas nossas interações eram marcadas por reflexões que faziam meu cérebro formigar pelo resto do dia.
Jéssica me lia. E isso também me fazia gostar dela. Quando você tem alguma aspiração artística e vai fazendo sua arte de um jeito meio experimental e inseguro, são poucas as pessoas que te dão apoio. Os amigos que se interessam em ler qualquer coisa que escrevo não enchem uma mão. Porém, essa bela garota com quem tinha essa amizade esporádica pelos corredores cinzas do décimo primeiro andar, não só me lia como me lia com atenção e comentava comigo minhas próprias palavras. Até hoje sou grata por esse carinho - e o tenho em mente quando escrevo.
Então. não me lembro se foi em um dos nossos papos entre as aulas ou se pelo Instagram, descobri que Jessica tinha uma voz absolutamente linda. Como nunca tínhamos falado disso antes? Talvez pelo mesmo motivo que, quando conto para alguém que escrevo, faço isso em tom interrogação. A música provavelmente era o tesouro que Jessica guardava a sete chaves.
Houve uma tarde em que Jessica passou em casa para pegar uns livros e acabou ficando para almoçar comigo e com minha família. Foi tão agradável tê-la ali e me perguntei, por que não tínhamos feito aquilo antes. Espero que nossos encontros se repitam em algum momento.
Quando a acompanhei até o ponto de ônibus, tivemos uma das nossas conversas de corredor da UERJ ali na minha rua. Ela me falou sobre seu desejo de fazer sua música acontecer. Desde então, passei a acompanhar seu Instagram na expectativa de vê-la florescer como a artista que sei que ela é.
E há alguns meses atrás algo muito especial aconteceu.
Vim sozinha
Jessica lançou seu primeiro single “Vim sozinha” em maio deste ano e, embora queira parabenizá-la pela coragem e disciplina de fazer isso acontecer, queria mesmo agradecê-la.
Uma das maiores mágicas da música - e da poesia - é essa habilidade de nos fazer sentir que nossa história está sendo contada pelas palavras de outra pessoa. Quando ouvi “Vim sozinha” pela primeira vez, foi exatamente isso o que senti. Era como se a Jessica tivesse traduzido meus sentimentos em palavras que eu ainda não tinha encontrado dentro de mim. Confesso que cheguei a me emocionar algumas vezes com as memórias que sua letra e melodia me trazem à tona.
VIM SOZINHA (Jessica Assis)
Vim sozinha e vou andando para frente
Minha mente tenta não naufragar
Eu bem sei que a vida chama a gente
O caminho precisa começar
Não, não posso caminhar
se tudo eu levar comigo eu não vou não
Não, não posso navegar
se tudo eu quiser levar na mão
Vim sozinha e vou,
vim sozinha e vou
de repente eu pego o jeito
de ter esperança no futuro
eu caminho e seguro minha própria mão
Não, não posso caminhar
se o peso eu levar comigo eu não vou não
Não, não posso navegar
se tudo eu quiser levar na mão
Vim sozinha e vou andando para frente
Que é pro passo dessa marcha eu não perder
Muito embora às vezes sinta de repente
Que me falte embaixo um chão pra por o pé
É verdade, é verdade
Mas há algo pra mim que eu quero ver
Mas há algo pra mim que eu quero ver…
Vou…
Por ser filha única, a solidão e a independência sempre foram minhas companheiras íntimas. Porém, desde a pandemia e por conta das decisões que tomei durante aquele período, tenho sentido que a solidão e a independência se tornaram ainda mais próximas e necessárias. E por mais que haja um peso nisso, uma certa melancolia, há aprendizados muito valiosos e uma satisfação em se ter como minha pessoa de maior confiança.
Para mim, a letra de “Vim sozinha” explica muito bem essa experiência de confiar em si mesma para realizar seus próprios desejos e lidar com a insegurança de não muito com quem contar e abrir mão de coisas valiosas para buscar outras coisas igualmente importantes, mesmo que isso resulte em algum tipo de isolamento.
Me ouvir na voz e nas palavras da Jessica me emocionou bastante. Afinal, nunca tinha conhecido uma cantora de quem sou fã na vida pessoal.
Obrigada, Jessica! Espero ainda me ouvir muito nas suas letras e melodias.
Essa edição ia ser uma mensagem no WhatsApp para a cantora, mas acho que essa música linda merece algo mais duradouro e público. Sério, escutem e sigam a Jessica (https://www.instagram.com/ajessicassis/). Ela é uma mulher incrível e o talento dela merece divulgação.
29/08/2024
Essa edição da newsletter foi escrita há mais de mês e estava guardada, mas acabei de ver que é aniversário da Jessica e decidi postar.
Parabéns, garota! Que você faça muito sucesso e que sua criatividade nunca se esgote.

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