Este ano foi peculiar. Uma amálgama de sentimentos complexos. Apesar de parecer assim para quem está de fora, não consigo dizer que realizei sonhos. Prefiro dizer que executei planos, superei parcialmente traumas e, pela primeira vez na vida, aos trinta e cinco anos, começo a me sentir adulta.
Após a pandemia - um período que discuti extensivamente aqui, no Instagram e entre meus amigos e familiares -, este ano foi o primeiro que me senti vivendo e não num estado de suspensão. Me sinto como se tivesse finalmente saído do meu casulo, uma borboleta ainda meio troncha de asas que batem descompassadas, mas ainda assim borboleta que, apesar de tudo, está pronta para voar pelo mundo.
2023 me trouxe emoções mais sofisticadas. Ao longo dos meses, conforme avançava em terrenos férteis, porém acidentados, fui confrontada com uma das principais percepções que alcancei durante os anos de isolamento social. É difícil descrevê-la em texto, mas vou tentar adiante.
Durante a pandemia, passei seis meses lendo “O tempo e o vento”, uma recomendação do George, um dos meus melhores amigos, que é mencionado aqui com frequência, assim como nas minhas conversas na vida real. Dentre muitas lições que tirei dessa leitura, uma das que mais me tocou foi a de que temos que colocar a mão no barro da vida e também agarrar o touro pelas aspas e derrubar o bicho. Se você me lê aqui ou interagiu comigo de alguma outra maneira, certamente já me ouviu falar disso, tamanho foi o impacto desses dois trechos em mim.
Este ano, a busca não foi por ser feliz, por não sofrer mais, coisas que procurei ingenuamente desde muito jovem. 2023 foi o ano que agarrei o touro pelas aspas e derrubei o bicho depois de ter enfiado meus braços até os ombros no barro da vida.
O que isso quer dizer? Que aceitei que viver é agridoce; que mesmo quando a gente está fazendo o que quer, vai se deparar com dificuldades e que a felicidade não é - e nem dever ser - perene. Caí de cabeça na vida em busca dos desafios que vão me trazer satisfações e benefícios mais duradouros do que o brilho efêmero da felicidade.
E é importante se sentir feliz. Me sinto feliz quando tenho conversas interessantes, quando escrevo algo que gosto, quando compartilho refeições, quando recebo elogios sinceros, quando vou à praia, quando o dinheiro cai na conta, quando me dou conta do quando aprendi, quando vou a shows, leio livros que me transformam… Mas entendi finalmente que a experiência de ser uma criatura que respira é mais que buscar uma felicidade boba. Tem me parecido que é mais sobre aprender e se superar e, consequentemente, se tornar alguém melhor.
Termino 2023 aliviada. Não tô me devendo nada, sabe? E acho que essa é uma das primeiras vezes que termino um ano com esse sentimento. Normalmente, me sinto frustrada por achar que poderia ter feito mais e, na maioria das vezes, poderia mesmo. Me estiquei ao máximo que deu e, mesmo tendo fraquejado um pouco em alguns momentos, foquei na terapia e paguei todas as minhas dívidas. Ufa!
Em 2024, quero cuidar melhor da minha saúde, priorizar o lazer e escrever (de verdade).
Feliz ano novo para todo mundo que me lê aqui, que me manda mensagem para comentar, que apoia esse sonho/dom/propósito/sofrimento que é a minha relação com a escrita. Muito obrigada!